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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Artigo "O óbvio mais uma vez"


Fonte: site ILUMINA
Um singelo exemplo de medidas de eficiência efetivas que podem ser tomadas a curto e médio prazo:
Quantas lâmpadas dicroicas (50W) é possível ver nos diversos shoppings espalhados pelo Brasil? O ILUMINA convida aos leitores notar esse detalhe na próxima visita a um desses lugares.
Uma dicroica “desperdiça” 44 W, pois pode ser substituída por uma LED de 6W com vantagens.
Ora, faça as contas. Supondo 10 horas de uso por dia, são 440 Wh/dia ou cerca de 150 kWh/ano para apenas uma lâmpada, que, vista desse modo pode ser encarada como uma “micro usina” de 44 W.

Com todas as dificuldades que o Brasil cria para adquirir uma LED (impostos), já é possível substituir a dicroica por uma LED gastando R$ 50 pelos 44W economizados, ou seja R$1,13/W ou R$ 1.130/kW.
Uma usina hidroelétrica de típicos US$ 2.000/kW custa cerca de 5 vezes mais e leva anos para começar a funcionar. A simples troca é uma “usina” instantânea 5 vezes mais barata do que uma hidroelétrica.
Nessa indiscutível vantagem, não está considerada a possível diminuição de impostos, o fato de lâmpadas LED não produzirem calor e nem o principal argumento: O “investidor” nesse caso é o consumidor!!
Agora, vejam: O gráfico abaixo mostra a evolução da carga total do sistema interligado em GWh. As setas azuis são recorrentes aumentos de consumo que ocorreram nos meses de março.
O consumo de energia elétrica tem subido a uma taxa aproximada de 3% a cada ano. É possível notar dois “alívios” de carga em 2001 e 2009. Ninguém pode discordar que políticas de incentivo ao uso consciente e aumento de eficiência sejam urgentes nesse momento. Queremos apenas lembrar que, com as tarifas praticadas no Brasil, muito pouca gente desperdiça energia sem ficar muito preocupado. Portanto, é preciso não entender a reportagem abaixo como uma identificação de culpa dos consumidores! O ILUMINA entende que a carga brasileira está se comportando  de forma previsível.
RIO – Vivian Lourenço, de 29 anos, tem lembranças remotas do período de racionamento de energia elétrica, em 2001: banho fora do horário de pico de consumo, ventiladores desligados, roupa suja acumulada para usar menos a máquina de lavar… Passados 13 anos, muitos desses hábitos ficaram para trás. E foi assim com a maioria dos brasileiros. O consumo de energia residencial por habitante supera em 10% o do período pré-racionamento. No momento em que o país se aproxima do período de seca com níveis baixos nos reservatórios das hidrelétricas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste – colocando em risco o abastecimento – especialistas cobram campanhas de incentivo à redução de consumo, abandonadas pelo governo desde o o racionamento de 2001.
Na casa de Vivian, no Recreio, o filho Bernardo, de 8 anos, mantém eletrônicos ligados simultaneamente: televisão e computador. Uma prática comum em outros lares. A mãe de Vivian é costureira e usa com frequência o ferro de passar, aparelho de elevado consumo elétrico. Ela reconhece que não costuma olhar o selo de eficiência energética dos eletrodomésticos, até porque considera difícil compreender o significado deles.
- Na época do racionamento, tinha 16 anos. Minha mãe ficava no pé da gente, pedindo para gastar menos, tomar cuidado com o horário de pico. Ela preferia deixar a porta de casa aberta para arejar, em vez de ligar o ventilador. Mas isso passou. E nunca mais ouvimos falar de economizar energia.
Segundo levantamento do professor Roberto Schaeffer, da Coppe/URFJ, o consumo residencial de energia elétrica por habitante está em 604 kWh por ano. São 10% a mais do que no período anterior ao racionamento, de 550 kWh, em 2000. No ano seguinte, o brasileiro passou a consumir 483 kWh em casa. Os valores representam uma média. Para consumir os 600 kWh de um ano inteiro basta deixar o ar-condicionado ligado 24 horas por 25 dias seguidos. Procurada, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) informou que não tem dados de consumo residencial por habitante.
- Em média, cada brasileiro consome hoje, em sua residência, mais do que consumia no passado. Isso é um fato. Houve um barateamento relativo dos bens duráveis, enriquecimento da população, tudo isso implica maior posse de eletrodomésticos – diz Schaeffer.
Além da pouca publicidade sobre o uso eficiente de eletricidade, diferentes fatores explicam a alta do consumo. Para Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, há mais equipamentos eletrônicos; barateamento de eletrodomésticos; alta da renda da população e da classe média; e mais residências com eletricidade (foram 14,9 milhões de pessoas pelo programa Luz para Todos desde 2003).
Pinguelli defende uma campanha para mobilizar a sociedade a reduzir de 5% a 10% a média de consumo de energia por causa do atual nível dos reservatórios. Sugere a redução voluntária, cujo termo em voga é “racionalização”. Seria, portanto, diferente das multas e sanções do racionamento.
- Isso é necessário agora para que a situação não fique mais grave lá na frente – disse Pinguelli, que enviou carta ao ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, recomendando a campanha. – O que sugiro é conscientização, e não imposição repressiva, como foi em 2001, o que é algo muito ruim. É, por exemplo, desligar o ar-condicionado ao sair da do quarto ou da sala de casa.
O diretor da comercializadora Enecel Energia, Raimundo Batista, diz que a situação do sistema elétrico é crítica. Em março de 2001, às vésperas do racionamento, o nível médio dos reservatórios do Sudeste era de 34,53%, só um pouco abaixo do de março deste ano: 36,26%. Em 2012, esse número era de 78,52%. Como o período de seca começa em maio, a situação é preocupante.
- Para os consumidores residenciais e comerciais é preciso uma campanha agressiva, com redução de tarifa de 30% a 40% para quem poupa, além de prêmios – disse Batista, acrescentando que com pequenas economias de energia é possível reduzir o consumo em 20%, como não deixar a luz acesa e retirar aparelhos da tomada.
Especialista no setor elétrico da Lopes Filho & Associados, Alexandre Montes lembra que o setor residencial foi o que mais contribuiu para o racionamento de 2001. No segundo semestre daquele ano, o consumo caiu 39,3% nas residências. Quem consumia mais de 100 kWh/mês precisou reduzir este patamar em 20%, sob risco de ter o fornecimento cortado por três dias – o que, na prática, não ocorreu. Quem consumia menos de 100 kWh por mês ficou isento da redução obrigatória, mas, se mesmo assim cortasse o consumo nessa proporção, tinha incentivos: bônus de R$ 2 para cada R$ 1 economizado na conta de luz. Quando se compara o nível atual de consumo com o de 2002, após o racionamento, o aumento é de 47%. Para Montes, é “extremamente alta” a probabilidade de o governo precisar de uma campanha de redução de consumo:
- O peso do racionamento cairia sobre o setor residencial – diz. – Minha preocupação é que o governo deixe isso para depois das eleições de outubro, o que poderá ser tarde demais.
Além de poupar os reservatórios das hidrelétricas, analistas afirmam que uma campanha de eficiência reduziria gastos com a dispendiosa energia térmica. Nas contas da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel), a redução de 5% no consumo permitiria uma economia de R$ 1,8 bilhão ao mês de consumidores e contribuintes. Essa economia viria pelo menor aumento de tarifas no futuro e menor uso da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).
- Parte do que está acontecendo poderia ter sido evitado se o governo tivesse feito campanhas em 2012, quando reduziu em 20% o preço da energia – diz Reginaldo Medeiros, presidente da Abraceel.
O governo evita ao máximo falar mesmo em “consumo racional”. No fim de março, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse em entrevista ao jornal americano “Wall Street Journal” que o governo pode lançar uma campanha de redução do consumo de eletricidade. Pouco depois, o Ministério divulgou nota informando que Lobão teria sido mal interpretado: ele comentava sobre evitar o desperdício de energia em qualquer momento, sem “referir-se especificamente a qualquer evento”.
O gerente de regulação da consultoria Safira, Fábio Cuberos, acredita que o governo teme uma confusão entre “racionalização” e “racionamento”. O primeiro não obriga as pessoas a reduzirem consumo, o segundo, sim. Ele lembra que o tema da racionalização de energia foi uma das armas do PT nas eleições presidenciais de 2002, que resultou na vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva:
- A campanha daquele ano bateu bastante nessa tecla. No governo, por isso, é palavra racionamento e racionalização parecem proibidas.
Procurado sobre se há alguma campanha em gestação para uso mais consciente de energética, o MME respondeu categoricamente: “não”.
Se os brasileiros deixaram de praticar hábitos de menor consumo de energia nos últimos anos, algumas mudanças permaneceram. É o caso das lâmpadas fluorescentes, mais econômicas. Segundo a Eletrobras, 18% das lâmpadas residenciais no país eram fluorescentes e 82% incandescentes em 1998. Em 2005, após o racionamento, cerca de 50% delas eram fluorescentes. Esse número teria chegado agora a 90% em cidades do Sudeste.
Denise Borges da Cunha, que faz bolos para festas de aniversário, não esqueceu a importância de economizar energia: usa a batedeira elétrica para bater a massa de seis a oito bolos em um só dia. Ela passou os ensinamentos aprendidos no racionamento para suas filhas, Larissa e Patricia.
Para Denise, além de diminuir os gastos com as contas de luz, de R$ 300 por mês, o uso racional garante o fornecimento.
- A redução do consumo com um racionamento seria horrível. Sabemos que é importante usar com racionalidade tanto a eletricidade como a água, senão um dia podem faltar – disse.
Além disso, embora muitos brasileiros não procurem necessariamente eletrodomésticos com selo de eficiência de consumo de energia, a chance de levar um produto do tipo para casa é maior. Segundo a Eletrobras, existem hoje 36 categorias de produtos com 3.748 modelos, com o selo Procel. Em 2001, eram apenas 12 categorias e 312 modelos.

Comentário de Ivo Pugnaloni, Presidente da ABRAPCH:

Curioso como o hábito de economizar, qualquer coisa, é mal visto no Brasil. As pessoas confundem economizar com ser “mesquinho”, sovina. Energia, água, comida, dinheiro, tudo isso deve ser gasto sem qualquer limite. Prever problemas para atuar antes que aconteçam, é ser ave de mau agouro… Exigir esclarecimentos, apresentação de documentos é a mesma coisa que chamar de ladrão. Orientar o consumidor a gastar menos, é racionamento. Quem mora num condomínio sabe perfeitamente do que estou falando. Depois, quando os problemas acontecem, e se gasta o dobro do previsto, por que ninguém quis ouvir aos “agourentos” aí a culpa não é de ninguém. Ou é de São Pedro, que já  morreu e não pode se defender. Aqui na Terra pelo menos…

Quosque tandem Brasilis, abbutere patientia nostra?

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